sábado, 3 de dezembro de 2011

AGUENTA CORAÇÃO - O TRABALHO DE GLÓRIA PEREZ PARA TERMINAR BARRIGA DE ALUGUEL


O próprio Wolf Maya aceitou atuar na novela, vivendo o ex-marido da personagem Moema vivida por Lúcia Alves. Mesmo separados Moema e Paulo César não conseguiam se desgrudar e vivam de brigas, além de tentar organizar a vida dos tres filhos adolescentes. Mulherengo, ele sempre se envolvia com mulheres bem mais jovens, para desespero da ex-esposa. No final da novela, Paulo César voltava para sua família e sua esposa Moema.



Escrita em 1985, a sinopse de “Barriga de Aluguel” ganhou forma em 1990, sem ter como ponto de partida nenhuma história real. Glória Perez começou a ler sobre os avanços da genética, as experiências com bebês de proveta e imaginou a história que ainda não tinha ocorrido- pelo menos não tinha sido expostas nos jornais- mas que poderia ocorrer perfeitamente.


-Em 1985 não tinha vindo a publico nenhuma disputa entre mãe de aluguel e mãe contratante. Como ainda não se tinha tido conhecimento de um caso em que um bebê nascesse de um processo que separava o óvulo e o útero. Ou seja: o óvulo é de uma mulher e o útero de outra. Mas havia a possibilidade cientifica e foi sobre ela que trabalhei.

O tema pareceu interessante porque revela ao mesmo tempo a fragmentação da maternidade, e como o avanço cientifico modificou este processo natural, introduzindo uma divisão entre as funções de gerar e de parir. A unidade foi quebrada pra ser vivida por duas mulheres diferentes: uma gera o filho, a outra o abriga, e vive a experiência do parto.


Isto tudo mexe com a maneira como a humanidade aprendeu a compreender e a pensar a maternidade. A gente vê aí dois aspectos interessantes: um é a dessacralização da maternidade, o outro é que esse tipo de experiência exige uma redefinição deste conceito. A maternidade nunca foi discutida, ela sempre foi tida como uma evidência.

A discussão, a dúvida sempre estiveram em cima da paternidade. Isto fica claro tanto nos códigos quanto nos próprios ditos que revelam a experiência popular: “os filhos de minha filha meus netos são, os do meu filho serão ou não”. Então o avanço da genética possibilita uma experiência como essa barriga de aluguel, nós assistimos uma dissociação entre a barriga, o parto e a maternidade.

O que fica muito claro é que os nossos sentimentos, a nossa formação não estão ainda em sintonia com situações criadas por esse avanço científico. Isso fica muito visíveis nos conflitos entre Clara e Ana: a mãe contratante sabe que seu filho está sendo gerado, que terá seus traços, seu código genético, mas isso não se evidencia no seu corpo, essa espera não pode ser vivida da maneira como ela aprendeu a pensar a maternidade. Ela começa a buscar no seu corpo não grávido essas sensações, porque aprendeu que é atreves delas que uma mulher se sente mãe. Por outro lado, temos a mãe de aluguel, que está grávida, que irá viver o momento do parto, mas que precisa dissociar de si essas vivencias, porque deve atravessar a gravidez e o parto sem assumir a idéia da maternidade.

A figura do pai, nesse caso de inseminação artificial, aparece sempre relegada a um segundo plano, pois em primeiro lugar está o médico, que “fez a criança”.


Glória Perez

Inicialmente, a novela seria exibida no horário das 20h, devido a seu tema polêmico. Esteve prevista para substituir “Roque Santeiro”, em 1986, porém foi substituída por “Selva de Pedra”. Em 1989, foi novamente cotada para ir ao ar às 20h, sucedendo “O Salvador da Pátria”, mas em vez disso, o vice-presidente das Organizações Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, suspendeu a produção da novela, pois alegou que queria acabar com os excessos dramáticos no horário. Em seu lugar, foi exibida a novela “Tieta”. Porém, no ano seguinte o folhetim conseguiu finalmente ir ao ar, às 18h00, se tornando um grande sucesso de público e crítica, com média geral de 47 pontos no horário. Tudo isso, graças a abordagem de temas novos e polêmicos, como o termo barriga de aluguel.



Para definir de maneira correta quem ficaria com a criança, Glória Perez pediu a três juizes que dessem sentenças e deixassem brechas nas sentenças, assim ela poderia colocar no roteiro de forma crível. O processo ocorria em três instâncias, assim como na vida real.

Na primeira instância, Clara ganha a guarda do bebê. Ana recorre, e o Superior Tribunal de Justiça decide que ela é a mãe biológica da criança e deveria ficar com a criança. No terceiro julgamento, a nvela termina sem mostrar a sentença, deixando o telespectador sem a resposta. Na cena final, as duas mães estão de mãos dadas com o filho, decididas a encontrar uma solução para a situação, independentemente da decisão final da Justiça.

Assista o capítulo 2 exibido nesta sexta - feira



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